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22 de novembro de 2015 | 10h33

ENDOMETRIOSE:

COMO DIAGNOSTICAR?

Cólicas intensas, dores e indisposição são alguns sintomas

Foto: Free Pik

Cerca de sete milhões de mulheres alegam que o período mensatrual é o pior para quem tem a doença

Amanda Caires e Ellen Mützemberg

 

Endometriose e infertilidade, duas palavras que povoam a imaginação da mulher. Doença, dor, infertilidade e problemas com gravidez, são alguns dos problemas que essas “simples” palavras podem causar. A relação entre endometriose e câncer é muito pequena, em torno de 0,5% a 1% dos casos. Na verdade, apesar de não caracterizar uma doença maligna, a endometriose se comporta de modo parecido, no sentido de que as células crescem fora de seu lugar habitual.

 

De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, entre 10% e 15% das mulheres em idade reprodutiva (13 a 45 anos) podem desenvolvê-la e 30% tem chances de ficarem estéreis. A doença é a principal causa de infertilidade no sexo feminino. A endometriose acomete mulheres a partir da primeira menstruação e pode se estender até a última. Geralmente, o diagnóstico acontece quando a paciente está na faixa dos 30 anos.

 

Não há consenso médico sobre as causas que levam ao desenvolvimento da endometriose, de modo que ainda é difícil falar diretamente em prevenção. Entretanto, diversos estudos sobre as características das mulheres que têm a doença ajudam a medicina a se aproximar de maiores respostas. Alguns estudos associam o padrão menstrual à ocorrência de endometriose: pacientes com fluxo mais intenso e mais frequente teriam maior risco de apresentar a doença.

 

Enquanto alguns fatores de risco para a endometriose são bem conhecidos, ainda não são claros determinados comportamentos, tais como o uso de determinados medicamentos, drogas, álcool, cafeína, entre outros fatores que podem aumentar o risco ou piora do quadro da doença, em contra partida fazer atividades físicas prece diminuir as chances de desenvolvimento da endometriose.

As complicações raras e graves que podem ocorrer durante a cirurgia incluem alto índice de hemorragia; danos a órgãos como o intestino, bexiga e grandes vasos sanguíneos, e embolia gasosa (uma bolha de gás que entra num vaso sanguíneo e se aloja no pulmão). O ginecologista especialista em endometriose do Hospital e Maternidade São Cristóvão, Dr. Fábio Muniz afirma que as complicações que podem surgir após a operação incluem a dificuldade em fazer xixi, infecção da ferida, infecção urinária, infecção do útero e alto volume no corrimento vaginal. “Para os casos de doença avançada, o tratamento é sempre cirúrgico e seguido de complementação clínica. Para os casos iniciais, é possível compor um tratamento clínico com a pílula anticoncepcional combinada ou só com progesterona”, disse.

 

A relação entre o uso de pílula anticoncepcional e a endometriose ainda é polêmica, alguns pesquisadores encontraram aumento de risco no uso do remédio, e outros que indicaram a redução ou ausência de efeito. Como alguns anticoncepcionais orais são utilizados por mulheres que apresentam cólicas menstruais e a endometriose causa dor pélvica (além das cólicas menstruais, apresentam também dor na relação sexual), a pílula é muitas vezes prescrita para mulheres que têm a doença, sem que se tenha descoberto alguma relação de causa e efeito entre elas.

 

 

 

"Os exames necessários devem ser feitos para elucidação diagnóstica, quanto mais precoce for a intervenção curativa, maior a chance de evitar as possíveis complicações como a distorção anatômica causada pela doença. Os fatores genéticos devem ser levados em conta, pois o histórico familiar de endometriose, principalmente de primeiro grau, aumenta o risco do desenvolvimento da doença."

Dr. Fábio Muniz, ginecologista especialista em endometriose

A jornalista e dona do blog “A Endometriose e eu”, Caroline Salazar, descobriu a doença em 2009 aos 31 anos. “Descobri a doença apenas 18 anos depois de sentir fortes dores e realizei duas cirurgias, a primeira foi em 2010 e a última em 2012”, disse. A jornalista diz que somente após a segunda cirurgia que ela ficou livre das dores, “desde a minha primeira menstruação aos 13 anos eu sentia muitas cólicas, dores nas pernas

e na lombar”, conta.

 

Apesar de um dos principais sintomas da endometriose ser a dor na hora da evacuação, Caroline diz que não sentia essas dores, por isso ela nunca levou tão a sério a questão das cólicas. Até que em um determinado momento a jornalista chegou a ficar semanas sem ir ao banheiro e foi submetida a uma cirurgia para colocar o intestino no lugar. Além disso, ela teve que induzir uma menopausa, fez diversos tratamentos para evitar a cirurgia, porém sem sucesso.

 

O Dr. Fábio Muniz explica que “exames de imagem como ultrassom transvaginal e ressonância nuclear magnética de pelve podem ajudar no diagnóstico de endometriose ovariana e infiltrativa, mas em casos mais leves não têm uma boa acurácia.” Segundo consenso da European Society of Human Reproduction and Embryology (ESHRE) e da American Society for Reproductive Medicine (ASRM), o padrão-ouro para diagnóstico de endometriose é a laparoscopia com inspeção direta da cavidade e visualização dos implantes, não necessitando de biópsia para

confirmação histopatológica.

Foto: Arquivo Pessoal

Caroline Salazar com sua filha Bárbara

“Na primeira tentativa nada foi diagnosticado, optei por trocar de ginecologista, foi então que ele solicitou o exame de marcadores tumorais, que é um exame de sangue, foi aí que obtive o diagnóstico definitivo pois deu uma alteração maior que o normal."

Amanda de Freitas, esteticista

Muitas mulheres se assustam quando são diagnosticadas com endometriose pelo fato de diminuir as chances de uma gravidez. Caroline conta que aos 15 anos de idade foi detectado um cisto em seu ovário que na época não foi identificado como endometriose. “No meio do tratamento para engravidar eu descobri que estava com baixa ovulação, mas foi devido a um ovário paralisado”, disse. A jornalista conseguiu engravidar em sua primeira tentativa por meio de uma fertilização in vitro, processo que leva um tempo e pode não obter o sucesso desejado na primeira tentativa.

 

 

            Minha gravidez foi tranquila, não tive nenhum problema, mesmo porque faz três anos que não sinto mais dor, levo uma vida tranquila hoje em dia graças à cirurgia que realizei em 2012.

 

 

 

Com relação ao diagnóstico tardio de Caroline, cerca de 18 anos sentindo fortes dores, o Dr. Fábio explica que “o pouco conhecimento que a mulher tem sobre a endometriose faz com que muitas delas acreditem ser normal ter cólica menstrual intensa e não procuram um médico. Porém, mesmo quando o fazem o diagnóstico demora a ser estabelecido”. No geral, o tempo entre os sintomas iniciais até o diagnóstico final pode alcançar 10 ou mais anos.

 

Não se pode afirmar que uma intervenção cirúrgica será definitiva para acabar com a doença, mas o que se observa é que muitas pacientes fazem tratamentos cirúrgicos insuficientes para extingui-la definitivamente. Devido ao alto grau de complexidade e riscos de complicações, muitas das intervenções cirúrgicas são incompletas, “alguns cirurgiões preocupados com estes riscos limitam o grau de invasão do procedimento e acabam não retirando a totalidade da doença dos órgãos afetados”, explica o ginecologista.

“O melhor que as pacientes podem fazer para manter a saúde em dia é consultar regularmente o ginecologista. Observar os sintomas e conhecer seu corpo também são atitudes que ajudam a perceber alterações, indicando a necessidade de voltar mais cedo ao consultório”, ressalta Dr. Fabio.

 

Não é em todos os casos que as mulheres que tem ou tiveram endometriose conseguem engravidar, algumas acabam ficando estéreis. É o caso da esteticista Amanda de Freitas de 22 anos de idade. A esteticista conta que aos 20 anos sentia cólicas muito fortes e que de início não deu tanta importância já que cólicas são normais no período da menstruação. Porém, Amanda diz que “chegou a um ponto que as dores eram tão fortes que mal conseguia me levantar, resolvi procurar um médico, foi então que tive o diagnóstico através de exames ginecológicos”, contou.

 

Os sintomas foram os mesmos que Caroline sentiu: cólicas intensas, alterações intestinais como diarreia e dor ao evacuar durante a menstruação e fora desse período e dor na relação sexual. Os exames que a esteticista fez foram os tradicionais como citologia oncótica, colposcopia, vulvoscopia, transvaginal e ultrassom.

 

 

 

 

 

 

 

 

A esteticista diz que teve que realizar a cirurgia, pois com a demora do diagnóstico da endometriose, a situação foi se agravando, “após 2 meses consegui um encaminhamento para realização da videolaparoscopia. Após a cirurgia veio a triste notícia, a obstrução das trompas uterinas e o comprometimento da alça do intestino. Com isso o médico informou que as chances de se tornar mãe de forma natural estavam descartadas, somente pelo método inseminação artificial”, disse.

 

Apesar de não poder engravidar pelo método natural, Amanda pretende ter filhos independente das circunstâncias e tenta levar uma vida normal, hoje ela faz tratamento com acompanhamento ginecológico, um programa implantado pelo convênio dela apenas para mulheres com endometriose e o tratamento é com medicamento de uso oral e contínuo.

 

Sobre sua rotina, Amanda conta que nem sempre é possível ter uma rotina normal quando se é diagnosticada com endometriose, “quando se fala sobre a gravidade da doença, não é somente pelas dores. A doença tem um comportamento maligno por ela ser crônica e progressiva, mas também pelo simples fato de a endometriose mudar toda a rotina da mulher. Além de mexer com o emocional, ainda sinto dores quando faço esforço físico, quando tento fazer alguma outra atividade que fuja da rotina”, disse.

A vida sexual também teve alterações, “namoro há três anos e meu namorado me acompanhou durante todo esse processo de descoberta e tratamento”. O apoio da família é importante para a mulher que possui a doença, pois como mexe muito com a autoestima da mulher, ela pode acabar desencadeando outros problemas como a depressão, falta de ânimo, entre outros.

 

 

 

Já ouviu falar de mioma uterino?

 

Assim como a endometriose, os miomas uterinos, chamados também de leioma ou fibroma, são tumores benignos - ou seja, não se transformam em câncer – gerados no tecido muscular. Existe uma correlação em pacientes que apresentam a endometriose e também os miomas. Os miomas são os tumores mais encontrados no útero feminino, sendo o principal responsável por histerectomias - cirurgias de retirada do útero - e atingem cerca de 50% das mulheres com idades entre 30 a 50 anos em sua fase reprodutiva, podendo aparecer em diversas regiões do útero e em tamanhos diferentes.

 

O mais comum é que os miomas uterinos apareçam entre a primeira menstruação e  a menopausa, sendo assintomáticos em metade dos casos e que tendem a regredir após a menopausa. Os sintomas mais comuns são: A excessiva perda de sangue durante a menstruação podendo causar cólicas, hemorragia e anemia, dor pélvica, desconforto nas relações sexuais, aumento do volume abdominal e infertilidade. A ginecologista, Paula Vilela explica que os sintomas também podem variar de acordo com a localização deles no útero “Tem miomas que ficam mais perto da cavidade do útero, os submucosos, miomas que ficam na musculatura, os intra-murais e miomas que ficam bem perto da parte externa do útero, os subseresos” e são diagnosticados após a realização

de uma consulta.

 

Os miomas se desenvolvem a partir do tecido muscular liso do útero, o miométrio. Uma única célula se multiplica descontroladamente e rapidamente até que forme uma massa distinta dos tecidos próximos. O seu crescimento pode variar de mulher para mulher de maneira que em alguns casos eles tendem a se desenvolver mais rapidamente, lentamente ou podem permanecer do tamanho inicial. 

As causas do mioma uterino ainda são desconhecidas “um dos fatores que podem influenciar além do excesso de peso, é a presença do histórico da doença na família e mulheres afrodescendentes”, explicou a ginecologista. Não se sabe a razão pela qual as mulheres afrodescendentes apresentam maior incidência, o que se sabe é que os miomas costumam surgir mais cedo –vão redor dos

20 anos - nessas mulheres.

 

A dificuldade para engravidar associada à presença de um mioma uterino é uma das principais queixas das mulheres com relação à doença. A infertilidade acontece caso o mioma ocupe a cavidade interna do útero ou a parede do mesmo. “Para mulheres com a doença, não usamos o termo esterilidade, que é uma condição permanente, apenas a infertilidade, que é a incapacidade de gestar após 12 meses de tentativa” explica o médico João Sabino Cunha Filho, especialista em reprodução humana.

 

Os miomas maiores que os considerados “normais”, atingem o abdome dilatando-o e podem aparentar uma falsa gravidez. Nos casos em que a doença se expande para fora do útero, há o risco de comprimir outros órgãos provocando fortes dores. Sabino, especialista do Centro de Reprodução Humana Insemine, alerta para os riscos de um diagnóstico tardio “a urgência acontece caso o mioma comprima a bexiga, atendando-se para o crescente sangramento uterino”, e ressalta que o diagnóstico precoce é a melhor maneira

de evitar a infertilidade.

Caroline Salazar, jornalista

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