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22 de novembro de 2015 | 10h33

ECLÂMPSIA: UM MAL SILENCIOSO

Hipertensão é responsável por 13,8% das mortes gestacionais,

aponta Ministério da Saúde

Camila Caproni

 

Principal causa de morte materna no Brasil, a eclampsia mata, ao menos, duas gestantes por dia segundo dados da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O problema se deve à pressão alta durante a gravidez e à perda de proteínas por meio da urina. Podemos considerar risco de eclampsia toda gestante que atinge uma pressão arterial igual ou maior que 14/09 mmHg.

 

A gravidez dá origem ao crescimento de um corpo geneticamente estranho ao da mãe (já que o feto possui 50% dos genes do pai). Para que o bebê não seja rejeitado pelo organismo, a mulher desenvolve mecanismos imunológicos para protegê-lo. No entanto, em alguns casos, o feto libera proteínas na circulação da mãe que provoca uma resposta imunológica natural da gestante agredindo os vasos sanguíneos e, consequentemente, o aumento da pressão arterial.

 

O estágio inicial da eclampsia denomina-se pré-eclampsia que, em geral, instala-se a partir da vigésima semana de gestação. A evolução para a eclampsia, a forma grave da doença, acarreta em riscos para a mãe e para o bebê, já que o aumento da pressão arterial chega ao cérebro causando convulsões.

 

Aline Amim, de 28 anos, foi vítima da eclampsia. Após seis meses de gestação sem nenhum problema, a auxiliar administrativa descobriu a doença após passar mal. “Minha pressão foi a 17/11 e logo após chegou a 20/12. Fiquei internada por cinco dias e duas semanas de repouso. Foi quando no dia 20 de junho, a minha bebê morreu na minha barriga”.

 

Além da eclampsia, Aline também descobriu que sofria da síndrome de HELLP. A síndrome, ainda pouco estudada por médicos e desconhecida pela maioria das gestantes, acompanha a eclampsia em grande parte dos casos. Ela se manifesta na segunda fase da eclampsia, o estágio mais grave da doença.

A sigla HELLP se deve aos nomes em inglês dos sinais clínicos que apresenta: Hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos), enzimas elevadas e baixa contagem de plaquetas. “Eu não tinha noção da gravidade da doença, pois a gestante não tem informação no começo da gravidez. Parece que nem os médicos sabem muito”, completa Aline.

 

Pela eclampsia se manifestar apenas na vigésima semana de gestação, é comum que mulheres ignorem alguns sintomas de aumento da pressão arterial como dor de cabeça, visão distorcida, tonturas e inchaços em excesso. Por conta disso, gestantes procuram atendimento já no estágio avançado da doença, onde é necessário induzir e acelerar o parto para evitar a morte da mãe e/ou do bebê. Foi o caso de Priscila Cristina, auxiliar de sala. Ao final da gestação, com 37 semanas, Priscila relata que acordou com os

sintomas da eclampsia.

 

 

       

           Minhas pernas e mãos estavam muito inchadas, tive dores de cabeça o dia todo, inchaço, zumbido no ouvido, dor na nuca e, por fim, convulsões. Então, a suspeita de

algo anormal surgiu em mim.

Priscila Cristina, auxiliar de sala

Foto: Arquivo Pessoal

No colo, a vitória de Priscila contra a eclâmpsia

O tratamento contra a eclampsia é paliativo, conta com o uso de medicamentos para controle da pressão arterial e a aplicação de corticoide, melhorando o desenvolvimento do feto. Em alguns casos, é comum que mães sejam internadas antes ou após o parto, para o melhor controle da pressão.

 

“Ficamos nove dias internados [mãe e bebê]. Foi difícil ver as mães indo embora pra casa, felizes com seus bebês e eu não poderia sequer levantar da cama, pois estava com a pressão arterial nas alturas. Foi bem difícil pra mim, um trauma. Eu achava que ia morrer a todo instante e só pensava no meu bebê”, afirma Priscila.

 

Das seis mães entrevistadas para esta matéria, cinco relataram a falta de informação e preparação por parte dos médicos, de hospitais públicos e particulares, durante o pré-natal:

Foto: Arquivo Pessoal

“Tenho convênio, mas foi falho, pois o diagnóstico foi muito demorado. Antes de recebê-lo passei quatro vezes pelo plantão.”

Aline Amin, auxiliar administrativa.

Foto: Arquivo Pessoal

“Nem os médicos que fazem o pré-natal têm informações suficientes para passar para as mães. O pré-natal era uma vez no mês e a médica não sabia nada sobre o assunto.”

Jésssica Lopes, artesã.

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