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22 de novembro de 2015 | 10h33

DA INFERTILIDADE À MATERNIDADE

Com o avanço da ciência, o diagnóstico de infertilidade

não é o fim do sonho dos casais

Foto: Shutterstock

Beatriz Galvano e Carolina Bozzi

 

Aos 12 anos, na pré-adolescência, Raquel Rosa Barbosa, recebeu o diagnóstico de ovários policísticos. Se um dia quisesse ser mãe, teria de passar por um tratamento. Esse distúrbio leva à formação de cistos, impedindo uma gravidez normal. A jovem seguiu o procedimento proposto pelo seu médico: o uso de anticoncepcional, e só parou quando decidiu engravidar, aos 25 anos.

 

As tentativas sem sucesso de conceber um filho duraram quatro anos. Foi quando, em 2011, Raquel e seu marido, Nilton Barbosa, 36, decidiram procurar uma clínica de reprodução humana. O casal realizou uma série de exames para dar início ao tratamento e, foi nesse momento, que eles descobriram que Raquel tem um desvio na trompa direita, um diagnóstico que nenhuma mulher

gostaria de ter.

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 10% dos casais têm algum diagnóstico de infertilidade. Isso significa que cerca de 80 milhões de pessoas sofrem com o problema no mundo. Esta porcentagem pode variar de região para região e também de acordo com a idade, principalmente da mulher.

 

Com o avanço da ciência, quando um casal se depara com o diagnóstico de infertilidade, não significa o fim do sonho de se tornarem pais. Mas a porta de entrada para tratamentos diversificados, como a inseminação artificial ou a fertilização in vitro.

 

 “Com esses dois problemas [ovários policísticos e desvio na trompa direita], o especialista nos orientou que seria muito difícil engravidar, mas que não era impossível”, lembra Raquel. Cabia ao casal a decisão de seguir com o tratamento. “Já estávamos tentando há muito tempo e nosso psicológico estava ficando cada vez mais abalado e o sonho de ser mãe estava cada vez mais distante”. Foi neste momento que o eles optaram pela fertilização in vitro, um método onde os gametas são coletados e os espermatozoides são obtidos por meio da masturbação. Depois da coleta dos gametas, alguns embriões são transferidos para o útero materno, onde começa o processo de gestação. Os outros embriões que não foram aproveitados são mantidos em congelamento, caso seja necessário utilizá-los novamente.

 

O especialista da equipe do Centro de Reprodução Humana, Rogério Leão afirma que a fertilização in vitro é o grande avanço da reprodução assistida. E que antes, para prevenir infecções ou reações alérgicas, o sêmen era injetado na vagina. Hoje, com a técnica in vitro, o procedimento é intrauterino, ou seja, o sêmen é colocado dentro do útero. “Houve avanço também nas medicações de estimulação ovariana e nas técnicas de preparo do sêmen”, relata.

Veja como funciona a fertilização in vitro:

Fonte: G1

Segundo a Resolução 1358/92 do Conselho Federal de Medicina (CFM), os embriões que são preservados devem ser mantidos congelados por tempo indeterminado. No Brasil, é possível doar voluntariamente ou anonimamente esses embriões para mulheres estéreis. A escolha do doador e da mulher que vai receber os espermatozoides é feita pela própria clínica de reprodução humana.

 

Em junho deste ano, foi apresentada no Congresso Europeu de Reprodução Humana, realizado em Portugal, uma pesquisa feita pelo centro de reprodução assistida, Origen, de Minas Gerais, a respeito do uso das técnicas de congelamento dos gametas. Em entrevista à BBC, o especialista da clínica, Selmo Geber, autor da pesquisa, concluiu que congelar os embriões é uma excelente alternativa para preservar a fertilidade da mulher e pode ser indicada tanto em casos em que as mulheres optam por adiar a gravidez por questões sociais, quanto para quem vai passar por algum tratamento que reduz a capacidade reprodutiva.

 

Existe um risco mínimo de infecção durante o procedimento. Há ainda o risco de ovário responder exageradamente ao estímulo hormonal e causar a síndrome de hiper estimulação ovariana, devido uso excessivo de medicamentos, que faz com que o ovário produza substâncias que causam inchaço e levam ao acúmulo de líquidos no abdome e pulmão. “Isso é um evento raro na inseminação, pois se o ovário responder demais, o ciclo pode ser cancelado rapidamente”, afirma o especialista

 

Outro risco que a mulher pode enfrentar é a probabilidade de uma gravidez múltipla que está associada a altos riscos de abortos ou bebês com peso abaixo do normal. Mesmo cientes dos possíveis riscos que a fertilização poderia trazer, Raquel e Barbosa decidiram seguir em frente. Ela conseguiu engravidar na primeira tentativa. O resultado deste processo foi a gravidez de não somente um filho, mas de dois: Matheus e Manuela. Hoje com três anos, os gêmeos são a alegria da família.

 

 

 

            Durante a minha fertilização, foram retirados 23 óvulos dos quais 19 foram fertilizados e se desenvolveram normalmente até o estágio de pré-embriões. Depois, foram transferidos para o meu útero dois pré-embriões para que as chances de uma gravidez única

aumentassem. Os outros foram congelados.

 

 

 

Durante o tratamento, a mulher faz o uso de medicamentos para indução de ovulação. No entanto, estes remédios são contraindicados para mulheres que possuem tumor do hipotálamo, tumor na glândula pituitária e carcinoma ovariano, uterino ou mamário.

Raquel teve uma gestação sem grandes dificuldades, porém, até a 12ª semana, a mãe de primeira viagem teve que usar alguns medicamentos injetáveis para ajudar no desenvolvimento da placenta.

 

Já Roseli Yada Flores, 47 anos, e seu marido, Roberto Sampaio, 45 anos, optaram por fazer a inseminação artificial há seis anos. Roseli e Sampaio também podem ser considerados um casal de sorte. Isso porque, na primeira tentativa, ela já conseguiu engravidar, o que é considerado raro. Os dois são pais de Victor e Henrique, de cinco anos.

 

A ginecologista Patrícia Santiago, afirma que nem sempre os casais que fizeram tratamento para engravidar, serão pais de gêmeos. Mas que as chances de nascerem dois é maior “Com os estímulos, a mulher produz mais óvulos e, na fertilização in vitro, mais de um embrião é colocado no útero para reduzir a chance de um não dar certo”.

 

Segundo Leão, a taxa de sucesso da inseminação é de cerca de 15% a 20% por tentativa. Em pacientes acima de 37 anos, as chances caem para menos de 10% por tentativa. Era o caso de Roseli, que tinha 42 anos quando começou o tratamento.

 

Leão explica que a inseminação, também chamada de inseminação intrauterina, é o ato de colocar o esperma dentro do útero por meio de um cateter flexível. Em vez dos espermatozoides serem depositados na vagina, como acontece em uma relação sexual normal, eles são, depois de preparados no laboratório, depositados internamente no útero, próximo às tubas uterinas. Desta maneira, a distância a ser percorrida pelo espermatozoide até o óvulo será menor e a chance de gravidez será maior. É como se um espermatozoide premiado fosse colocado na frente da fila, para não se cansar pelo caminho.

 

Antes de realizar o procedimento, os ovários são estimulados por hormônios a fim de se obter um maior número de óvulos recrutados, em vez de somente um, como ocorre em um ciclo espontâneo. Nesta fase, os folículos - pequenos cistos que contém os óvulos - têm seu crescimento acompanhado pela ultrassonografia. Quando atingem um tamanho adequado, a ovulação é desencadeada por um medicamento e, então, é marcada a inseminação.

 

“O procedimento é realizado no consultório e sem anestesia, é indolor e não dura mais do que alguns minutos", diz Leão.

 

Raquel Rosa Barbosa

 

Segundo o especialista, com o processo de inseminação realizado, o tratamento dura cerca de 15 dias, devendo aguardar mais 15 dias para fazer o teste de gravidez. Caso seja negativo, pode-se tentar de novo na sequência. "Não é recomendado fazer mais do que quatro tentativas, pois as chances passam a ser muito baixas. É recomendado, nestes casos, partir para fertilização in vitro",

completa Leão.

 

Existem dois tipos de inseminação, a homóloga, que é quando se utiliza dos gametas do próprio casal, e a heteróloga, quando os gametas são obtidos por meio de doadores.

 

Segundo Leão, somente há restrição para se realizar o procedimento se as trompas uterinas estiverem obstruídas ou o sêmen ruim, pois, nestes casos, as chances de dar certo são mínimas e a inseminação não se deve ser indicada.

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