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22 de novembro de 2015 | 10h33

LIBIDO FEMININA:

O PRAZER ALÉM DA PÍLULA

Um impulso químico no desejo sexual das mulheres

Elaine Keiko Kawassaki

 

Quando o viagra chegou às mãos do consumidor, em 1998, poucos seriam capazes de imaginar o tamanho da revolução sexual que aquela pílula azul provocaria na sociedade. Homens de meia idade, muitos já levando uma vida sem desejos, voltaram a se sentir como se fossem jovens em plena adolescência. A droga de ereção fez com que a aposentadoria sexual, chamada de andropausa pela ciência, fosse adiada por mais alguns anos para os homens. As mulheres, que nos anos 1970 já viveram sua revolução particular com a aparição das pílulas anticoncepcionais e na década seguinte tiveram um outro empurrão com o surgimento de terapias de reposição hormonal, ainda padeciam de encontrar o equivalente feminino de um Viagra. Mas a chegada do Addyi, a pílula não hormonal à base de flibanserina para tratar o TDSH (transtorno do desejo sexual hipoativo), pode empatar a corrida entre os sexos. Pelo menos esta é a esperança de pacientes que sofrem com o problema e o laboratório que lançará o medicamento, aprovado pela FDA (Food and Drug Administration), agência americana reguladora de alimentos e remédios, em outubro.

 

Com as pessoas vivendo mais, a ciência passou a realizar mais pesquisas para prolongar a vida sexual de homens e mulheres. Novos tratamentos clínicos e cirúrgicos, além das terapias hormonais, surgiram com a promessa de garantir uma longevidade sexual maior. No caso masculino, o Viagra se tornou o mais conhecido e popular medicamento de disfunção erétil. Estima-se que nos Estados Unidos, quatro pílulas azuis são ingeridas a cada segundo. No Brasil, é uma pílula por segundo, segundo a indústria farmacêutica. Mas para o sexo feminino a falta de libido, muito associada à entrada na menopausa, era tratada como uma questão psicológica. Até que estudos mostraram que o desejo sexual nas mulheres pode ter origem física. E remédios como o Addyi atuam nessa nova fronteira do conhecimento sobre o corpo feminino.

 

A substância flibanserina não vai melhorar o desempenho sexual, e sim, tratar o TDSH, que é caracterizado pela redução, ausência ou perda completa de fantasias eróticas e do desejo de ter relações sexuais. Atinge principalmente as mulheres que estão no período de pré-menopausa, devido à alteração fisiológica e o desequilíbrio hormonal. A perda de libido é influenciada pelos hormônios, como a testosterona e o estrógeno, pois a ausência deles diminui a vontade de transar. Fatores psicológicos, como a depressão e a baixa autoestima, associados à dinâmica do relacionamento, a sobrecarga física e mental, continuam sendo relevantes, porque também contribuem para desencadear a disfunção.

 

O transtorno se caracteriza como algo persistente e não esporádico, ou temporário. “Os americanos consideram pelo menos seis meses de duração para declarar que a falta de desejo, já constitui uma disfunção. Além disso, esse problema possui um caráter de sofrimento para a pessoa que está vivendo aquela situação”, disse a psiquiatra e sexóloga, Carmita Abdo, coordenadora do ProSex (Projeto Sexualidade) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Por isso, nem toda falta de desejo é considerada transtorno.

 

A falta de libido é muito comum, e pode ocorrer em diferentes fases da vida. Um artigo publicado em 2013 pela Escola Superior Albany de Farmácia e Ciências da Saúde, Estados Unidos, revelou que uma a cada dez americanas possuem o TDSH. “A média de transtorno é parecida no Brasil e em outros países, atingindo cerca de 10% do público feminino”, afirmou Carmita, que ainda citou que a média de inibição aumenta conforme a idade. “Entre 18 e 25 anos a média é de 5,8% de incidência, e esse número vai subindo a ponto de chegar a 19,9% em mulheres

acima de 60 anos”.

Para Carmita Abdo, o pioneirismo da flibanserina abre as portas para novos tratamentos

       Em 2002, o estudo feito pelo ProSex para mapear a sexualidade dos brasileiros, apontou que 34,6% das mulheres apresentaram falta de desejo sexual em algum momento de suas vidas, mesmo que não tenha sido diagnosticado

como disfunção.

Foto: Arquivo Pessoal

A descoberta da flibanserina para o tratamento do TDSH foi por acaso. Em 2006, a substância começou a ser estudada pela indústria farmacêutica alemã Boehringer para ser um antidepressivo. Após testes em homens e mulheres, ela se mostrou pouco efetiva. Mas, para a surpresa dos pesquisadores, algumas pacientes do sexo feminino comentaram que a substância aumentou o desejo e o prazer sexual, elevando a incidência agradável de sexo de 2,8 vezes, para 4,5 vezes por mês, enquanto as que tomaram placebo obtiveram resultado de 3,7 vezes. Já nos homens não surtiu efeito algum. A partir desses relatos, a empresa viu uma grande oportunidade em um mercado ainda inexplorado: lançar um produto para tratar do transtorno do desejo sexual hipoativo feminino.

 

A Boehringer iniciou os testes clínicos direcionados para o tratamento da disfunção. Porém, como o estímulo sexual feminino é mais complexo, as primeiras manifestações começaram somente após quatro semanas de uso diário de 100 mg de flibanserina. Os testes foram realizados com quase 2 mil mulheres sem depressão, no período de pré-menopausa, de diversas idades, sendo que metade recebeu placebo.

 

Em maio de 2010, a substância foi submetida pela primeira vez à análise do Comitê Consultivo de Drogas e de Saúde Reprodutiva da FDA. Depois de um mês, a agência concedeu o parecer questionando sua segurança e efetividade, classificando a flibanserina como moderada para a sua aceitabilidade, e que os efeitos colaterais eram preocupantes, principalmente quando o uso do medicamento era associado à ingestão de álcool, antidepressivos e anticoncepcionais. E pior, o comitê alegou que sua eficácia era equivalente ao placebo. Após essa decisão, a Boehringer parou os estudos e vendeu a patente para a Sprout.

Foto: Elaine Keiko

Oswaldo Rodrigues Jr. disse que a flibaserina tem a mesma eficácia de um placebo

O psicoterapeuta sexual do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade), Oswaldo Rodrigues Jr, relembra que há cerca de 10 anos a Boehringer apresentou o remédio em um congresso científico europeu, e já nessa época, os especialistas afirmaram que os efeitos proporcionados eram mínimos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mesmo diante desses fatos, a Sprout realizou novos testes, e a efetividade da substância permaneceu inalterada. De acordo com informações disponíveis no site da FDA, Addyi foi avaliado em um teste clínico que durou 24 semanas, com cerca de 2.400 mulheres diagnosticadas com o TDSH há aproximadamente cinco anos, com idade média de 36 anos, que foram divididas em dois grupos. Aquelas que receberam uma dose de 100 mg da flibanserina, tiveram cerca de 10% mais melhorias nos eventos sexuais satisfatórios do que as

que tomaram placebo.

 

Em meio à divergência acerca dos reais benefícios proporcionados pela substância, muitos especialistas questionam se o uso do remédio será tão benéfico como promete, ou se vai ser apenas uma quimera. A coordenadora do ambulatório de sexologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais e ginecologista, Fabiene Bernardes Castro Vale, falou que as mulheres que possuem o TDSH, apresentam um desequilíbrio nos neurotransmissores cerebrais. O princípio ativo vai agir em pontos específicos

           A apresentação foi até ridicularizada pela plateia de especialistas, porque falaram que 30% das mulheres que tomaram o medicamento tiveram aumento de desejo. Questionaram se deram açúcar para elas,

porque dá no mesmo.

Oswaldo Rodrigues Jr.,

psicoterapeuta sexual do Inpasex

do cérebro, dentre eles, o receptor da dopamina e serotonina, restaurando o controle da motivação e recompensa sexual, devido ao aumento da dopamina e norepinefrina, enquanto transitoriamente diminui a ação da serotonina, que é associada à inibição. “A flibanserina vem trazer grande expectativa para este grupo específico de mulheres com o transtorno”, explica.

 

O uso de um composto químico para melhorar a libido feminina preocupa a ginecologista, sexóloga, Carolina Ambrogini, coordenadora do Projeto Afrodite, do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo. “Por quanto tempo a mulher vai querer tomar uma medicação crônica para ter desejo? O remédio pode ajudar quando ela estiver passando por uma situação difícil. Usa por um tempo, recupera o desejo e aprende a se autoerotizar. Sozinha, a medicação não será tão eficaz, se ela se sente feia, não se sente sexualmente atraente, se o parceiro não a estimula. Por isso, deve haver uma mudança de comportamento. Por outro lado, é algo positivo, uma ferramenta a mais para tratar da TDSH”, diz.

Foto: Arquivo Pessoal

Carolina Ambrogini defende que a mulher tem que aprender a se autoerotizar e a ter desejo de outras formas, seja por meio de livros ou filmes

Rodrigues Jr. questionou a eficácia da substância, porque defende que os mecanismos que deflagram a falta de libido feminino são mais complexos que um único medicamento seja capaz de tratar. “Existem grupos técnicos científicos a partir da psicologia, dentre eles a renomada sexóloga americana, Leonore Tiefer, da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova York, que estão batendo a mão na mesa e dizendo que estão criando uma doença. O que existe é uma condição humana disfuncional. Eu auxilio as pessoas a vencerem e a superarem condições humanas que estão trazendo sofrimento para elas”.

 

A educação sexual nas escolas é vista pela psicóloga especializada em sexualidade humana e coordenadora do Observatório da Mulher, Raquel Moreno, como a melhor opção para conhecer e entender melhor a sexualidade. Mas no Brasil há um contrassenso político impedindo que isso ocorra.

“A última tentativa que teve foi objeto de uma série de reações por parte da bancada conservadora. A educação sexual promoveria um grande salto em termos da vivência satisfatória da sexualidade tanto para o homem quanto para a mulher, sem necessidade

de nenhum medicamento."

 

Raquel Moreno, coordenadora do Observatório da Mulher

Foto: Arquivo Pessoal

Raquel Moreno mencionou que as pessoas deixaram de lado o envolvimento e a afetividade

O clínico geral e médico assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Arnaldo Lichtenstein, afirmou que não é a pílula mágica, e que a substância não é uma droga nem perto do ideal, mas pondera que também há um lado positivo, de que vai mudar os paradigmas sociais. “A libido feminina não é discutida na sociedade. O remédio pode tirar o machismo da ciência, desmitificar um tabu sobre o prazer sexual da mulher, e vai abrir caminho para outras drogas e pesquisas. Essas são as vantagens. Agora não é só ter a relação, mas ter a relação e prazer, isso é uma revolução sexual.”

 

Sob o ponto de vista da inovação, Carmita argumentou que o grande mérito da flibanserina é ser a primeira substância aprovada para tratar de uma disfunção feminina, e que isso abre uma nova possibilidade de tratamento do TDSH. “Não vamos nos ater apenas a considerar o quanto é eficaz ou não. Esse medicamento é um entre vários outros que estão em estudo para melhorar a libido feminina, e esse pioneirismo é algo que sem dúvida, considero positivo”, sugere.

Addyi foi o primeiro medicamento a ser autorizado para a comercialização, mas a flibanserina não foi o primeiro princípio ativo a ser estudado para melhorar o desejo sexual. Rodrigues Jr. falou que desde os anos 1990, pesquisadores estudam uma substância chamada PT-141, que é um peptídeo, composto por vários aminoácidos. “Ele realmente produz desejo, pois age diretamente sobre os centros de excitação do cérebro. O remédio não foi lançado nos Estados Unidos por causa de problema jurídico, porque poderia ser usado por homens e mulheres para aumentar a excitação, e isso criou um impasse quanto ao controle dos impulsos sexuais, que talvez não pudessem ser

contidos”, afirma.

 

Pela opinião dos especialistas, a flibanserina não vai causar um desequilíbrio incontrolável na excitação. Ao contrário do Viagra, que intensifica o fluxo sanguíneo no pênis e tem efeito quase que imediato, as mulheres vão ter que tomar as pílulas por um período

contínuo, e somente depois de 6 a 8 semanas é que começarão a sentir os primeiros efeitos. Os médicos recomendam que após o período, se não houver reação, ela deve suspender o uso.

 

Quando Addyi foi aprovado, a FDA exigiu que a embalagem tivesse um alerta, destacando os riscos de hipotensão severa e perda de consciência em pacientes que ingerem álcool durante o tratamento, e para quem usa inibidores do CYP3A4 moderados ou fortes (enzima que metaboliza a estatina, substância que controla o nível de colesterol LDL ou o chamado mau colesterol no sangue), e também para aquelas que têm insuficiência hepática. Para essas pacientes, o remédio é contra indicado. As reações adversas mais comuns associadas ao uso são tonturas, sonolência, náusea, fadiga, insônia e boca seca. Por isso, a entidade está exigindo que a indústria farmacêutica realize três estudos para analisar e entender melhor os efeitos colaterais provenientes da ingestão de álcool.

 

Mas, se o medicamento possui tantos efeitos adversos preocupantes, porque foi liberado para a comercialização?  Uma das hipóteses foi a pressão popular de grupos feministas, que acusaram o comitê de especialistas da FDA de ser machista. “Com relação a pressão popular, ninguém duvida, foi amplamente noticiado. Mas houve pressão dos dois lados, tanto dos grupos que queriam o lançamento, quanto daqueles que, pelo contrário, não consideravam razoável sua comercialização”, diz Carmita.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma pesquisa conclusiva acerca da eficácia de um remédio dura em média de 10 a 20 anos, contados desde o início da comercialização, até o monitoramento de como ele age em cada organismo. “Provavelmente a indústria farmacêutica nem finalize um estudo, talvez porque nem dê tempo de manter a comercialização a ponto de o laboratório considerar que é economicamente viável, ou porque o monitoramento do público que está consumindo tem custos elevados, sendo inviável economicamente”,

disse Rodrigues Jr.

 

O psicoterapeuta sexual ainda citou que o laboratório brasileiro que solicitar a comercialização da flibanserina no país terá que fazer os mesmos estudos feitos nos EUA. “Se a indústria farmacêutica investir em centros de pesquisas, provavelmente levaria de 2 a 4 anos para ter uma análise minimamente pronta, para encaminhar ao Ministério da Saúde e à Anvisa. Mesmo assim, não estaria disponível no Brasil em menos de 5 anos”, adianta.

 

Não há previsão de quando, e se a flibanserina chegará às farmácias brasileiras. Por enquanto, seremos meras expectadoras de uma possível libertação da sexualidade das americanas que têm o TDSH.

Arnaldo Lichtenstein falou que o remédio pode mudar os paradigmas sociais, tirando o machismo da ciência

Lichtenstein ressaltou que para lançar um produto no mercado, são necessárias quatro fases. A primeira refere-se ao desenvolvimento da molécula e estudos com animais em laboratórios. Posteriormente, deve-se verificar se o remédio não tem um efeito colateral muito grave. Em seguida é necessário constatar que ele age realmente ao que foi proposto. E a última fase é quando ele entra no mercado, e esta é apontada como a mais decisiva para a aceitação da medicação. “Alguns medicamentos são retirados de comercialização assim que iniciam as vendas, porque na última fase são descobertos efeitos colaterais maiores e reações não esperadas, além dos que já foram diagnosticados durante as pesquisas. Há mais mulheres usando, e elas são de diferentes raças e idades. Acredito que em poucos meses conseguiremos ter um panorama mais completo sobre a efetividade da flibanserina.”

Foto: Elaine Keiko

Foto: Elaine Keiko

A saúde sexual feminina

 

A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera a saúde sexual como o quarto pilar das condições necessárias para a qualidade de vida do ser humano. Nos últimos 15 anos se pondera a saúde sexual porque ela é representação de que a saúde física, mental, e a social preexistem, ajudando a alterar a percepção da sociedade sobre a liberdade sexual, tanto dos homens quanto das mulheres.

 

Raquel disse que o machismo está arraigado em nossa cultura, e que antigamente, havia uma dupla moral sexual. Para o homem, quanto mais experiência sexual tivesse, melhor, e a mulher tinha que casar virgem, porque senão era considerada prostituta. “Não tinha meio termo, ou era santa ou era puta. Santa servia para casar e as outras para transar. Mas atualmente, os valores quantitativos sobre o desempenho sexual é que passaram a ser mais importantes, tanto para o homem quanto para a mulher, e os padrões de envolvimento, de afetividade passaram a ser deixados de lado”, diz.

 

Mas ainda não é tão simples assim. O sexo como um ato de prazer, não é um consenso entre as mulheres. Carmita falou que as maiores causas da falta de desejo em mulheres mais jovens são a depressão ou devido à ingestão de algum medicamento que inibe o desejo. Em mulheres mais velhas, entrando no climatério (menopausa), a origem está ligada a deficiência hormonal, e a falta de lubrificação, que ocasiona dor durante a relação. “A redução dos hormônios sexuais deixa a mulher menos disposta. A testosterona é o hormônio da motivação e o estrógeno é fundamental para a lubrificação, porque agem no sistema nervoso. Quando a mulher para de produzir estrógeno, vai ter a secura vaginal como um dos sintomas, e consequentemente dor e desconforto durante a relação. Com isso, surge um desinteresse crescente porque o sexo não é prazeroso”.

 

A coordenadora do ProSex alerta que as DCNTs (Doenças Crônicas Não Transmissíveis), como diabetes e problemas cardiovasculares, também dificultam a lubrificação vaginal. “Essas doenças podem modificar a mucosa da vagina e interferir na circulação e na vasodilatação da região”.

 

A falta de libido é uma queixa frequente nos consultórios de ginecologia. Por isso, Fabiene explicou que o médico deve conhecer a fisiologia do ciclo da resposta sexual, que envolve os órgãos genitais pélvicos e o sistema nervoso central, principalmente o límbico. “Mediadores neuroendócrinos também estão envolvidos, como a dopamina, noradrenalina, adrenalina, opioides, óxido nítrico, endocanabiontes e a serotonina. Os esteroides sexuais interagem com todo o sistema. O estradiol e a testosterona são importantes para o funcionamento normativo da resposta sexual feminina”.

 

Ela ainda ressaltou que o médico deve perguntar tudo sobre a sexualidade da paciente, desde o início da atividade sexual, frequência, satisfação, masturbação, estímulo, desejo, excitação, orgasmo e dor. “Um exame físico completo deve ser realizado para avaliar a saúde geral e descartar possíveis patologias. No exame tocoginecológico o profissional deve ficar atento para o fato de que algumas doenças estão diretamente relacionadas com a má resposta sexual”.

 

Fatores multivariáveis, de origem cultural, como a educação rígida ou repressão religiosa que não permite que a mulher se toque, são apontados por Carolina como desencadeadores para a redução de desejo. “Não há uma causa única, às vezes a disfunção pode decorrer da soma de uma ou mais causas simultaneamente e isso é normal.”

Foto: Shutterstock

As vendas de Addyi começaram em outubro deste ano nos EUA, mas não há data para início da comercialização no Brasil

Mas há outros elementos do cotidiano que interferem na libido. Lichtenstein mencionou que a sobrecarga física e mental afeta negativamente o desejo. “O sexo tem que ser pensado a dois. Tem que ter tempo para namorar, abstrair os problemas do cotidiano. Às vezes a mulher não relaxa e não aproveita o sexo. Quando as pessoas estão desanimadas, desmotivadas, deprimidas, estressadas e a primeira coisa que afeta é o sexo”, explica.

 

Aos 40 anos, a assistente comercial Simone Madruga percebeu que estava sentindo menos vontade de transar com o marido. Em uma de suas consultas de rotina ao ginecologista, fez os exames periódicos e descobriu que estava com alteração hormonal, uma das características das mulheres que estão no período de pré-menopausa. O médico prescreveu um remédio para controlar os hormônios, mas ela não falou nada sobre a inibição sexual. “Não conversei com o médico sobre a diminuição do desejo, porque eu e meu marido não consideramos o sexo como algo imprescindível em nosso casamento. Nossa convivência é tão boa que a parte sexual vem depois do afeto, é mais gratificante um abraço e carinho”.

 

No começo, Simone pensou que fosse apenas o desequilíbrio hormonal o causador da perda de desejo, mas o estresse do dia-a-dia, tendo que conciliar o trabalho com os afazeres domésticos, contribuiu para diminuir sua libido. Desde que Simone percebeu que o desejo estava diminuindo, conversou abertamente com o parceiro. Ela mencionou que o excelente relacionamento, a estabilidade e a confiança mútua do casal, a deixou mais segura. Além disso, ela não se sente cobrada para procurar auxílio de um médico. Hoje, aos 46 anos, ela e o marido concordam que o sentimento afetivo deve prevalecer em detrimento ao sexo, pois fortalece os laços entre o casal. E mais, o sexo é apenas um coadjuvante em suas vidas. Por isso, a falta de desejo não atrapalha o seu relacionamento, porque o amor está em primeiro lugar.

 

O mecanismo que ativa o desejo sexual em mulheres como Simone e tantas outras é mais complexo e lento do que nos homens. Raquel mencionou que é necessário aguçar todos os sentidos e mesmo assim, algumas ainda têm dificuldades para se excitar. “A erotização feminina envolve o olho no olho, a química, o afeto, e o carinho, que são coisas importantes. Se a gente mecaniza a sexualidade, acaba empobrecendo. O uso de algum remédio pode até ajudar, mas ficaria uma relação artificial, perderia a essência do relacionamento.”

 

Carolina defende que a mulher precisa conhecer o próprio corpo e saber quais áreas erógenas podem ser estimuladas para proporcionar mais prazer. Além disso, precisa aprender a se autoerotizar e procurar coisas no relacionamento que a estimulem. “A mulher é muito passiva sexualmente, tem que quebrar o tabu e aprender a ter desejo de outras formas. Se estimular assistindo filmes, lendo livros. O desejo está relacionado a diferentes coisas que geram estímulos”. A mulher tem menos desejo do que o homem, por isso o parceiro deve investir em preliminares e no romantismo. O estímulo é essencial para a excitação da mulher, com isso o sexo flui. “Às vezes, ela não tem muito desejo espontâneo, mas tem desejo responsivo”.

 

Para indicar o tratamento mais adequado, é preciso fazer o diagnóstico e descobrir a origem da perda de libido. Rodrigues Jr. falou que quando uma pessoa diz que não tem vontade de transar, deve-se analisar se ela está se referindo a uma vontade voluntária ou é uma sensação que conduz a uma atividade sexual de maneira impulsiva. “Tem uma série de circunstâncias que a gente tem que compreender, porque o desejo hipoativo não é simplesmente uma circunstância biológica que deixou de funcionar. A mobilização do desejo pode ter outras razões, outras motivações dentro da pessoa”.

 

Frequentemente, Rodrigues Jr. escuta os maridos se queixando de que as esposas perderam o interesse em transar, e quando fazem, é apenas para agradá-los. “Alguns homens se cansam dessa situação, e pior, reclamam que elas nem olham mais para eles. O desejo perpassa uma série de outras coisas nos relacionamentos, e que nem sempre diz respeito a sexo”.

 

Para Fabiene, nos casos em que a falta de desejo provém de uma monotonia, a ajuda pode vir por meio de terapia para aconselhamento sexual. “Resgatar a intimidade com o parceiro e um bom relacionamento conjugal sempre será o primeiro passo para uma vida sexual saudável e satisfatória”.

 

A mulher é um ser complexo, inclusive no sexo. Quem sabe um dia, todas possam ter uma vida sexual ativa, e porque não dizer, tão promíscua e prazerosa quanto à dos homens.

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